No Novembro Azul, mês mundial de conscientização sobre a saúde masculina, o oncologista e pesquisador Dr. Marcelo Freitas, do Grupo Elora, destaca as nuances e avanços no entendimento do câncer de próstata.
O que é o novembro Azul?
É uma iniciativa mundial para conscientização sobre o câncer de próstata.
Contudo, nos últimos anos, devido controvérsias do benefício em realizar o rastreamento do câncer de próstata, o movimento passou a ser considerado o mês de conscientização da saúde masculina.
O que é importante, pois homens são menos propensos a cuidar da própria saúde. Mas tem menos apelo do que o Outubro Rosa, onde há estratégias aplicáveis como a mutirões de mamografia, cirurgias que podem ser realizadas.
Importante enfatizar que rastreamento, refere-se a identificar câncer de próstata em homens sem sintomas. A controvérsia é sobre este grupo de pacientes. Homens sintomáticos devem procurar atendimento médico.
Por que identificar casos de câncer de próstata não seria benéfico?
Isso tem a ver com a história natural do câncer de próstata, que em muitos casos tem uma evolução muito lenta que não impacta na sobrevida.
Sem rastreamento, muitos casos de PCa jamais se tornarão clinicamente relevantes. Muitos homens irão morrer de outras causas antes que o PCA se torne avançado.
Ao identificar tumores indolentes, é uma tendência do paciente querer tratar. O problema é que o tratamento pode vir com sequelas, como incontinência urinária e impotência. Nestes casos, a morbidade do tratamento é maior que da doença.
A grande questão é a necessidade de distinguir o tumor indolente que pode ser acompanhado, do tumor agressivo que precisa ser tratado. O rastreamento identifica ambos.
Qual a discussão em relação ao rastreamento?
A controvérsia sobre fazer exames de PSA (exame de sangue) em indivíduos assintomáticos surgiu em 2012. Desde então, várias entidades se posicionaram contra fazer o rastreamento como a OMS e o Ministério da Saúde do Brasil. Algumas sociedades mantiveram por algum tempo a indicação de fazer o rastreamento.
Desde 2018, uma estratégia que vem sendo adotada é a de decisão compartilhada com o paciente sobre realizar o exame.
Como funciona a decisão compartilhada?
É basicamente uma explicação ao paciente dos prós e contras de realizar o rastreamento. Existem cartilhas que trazem essas informações, e após na consulta é esclarecido dúvidas e o paciente decide se quer ou não fazer o exame de rastreamento.
Eu sou a favor dessa estratégia. Acredito que em alguns anos a recomendação mude na direção de uma recomendação mais abrangente. Mas para isso, será necessário evitar o diagnóstico e tratamento desnecessários.
Atualmente, a decisão compartilhada está indicada para homens assintomáticos entre 55 e 69 anos* Aqueles que decidem fazer o rastreamento, será oferecido a realização do exame de sangue que faz a dosagem do PSA, em intervalos de 2 anos.
* Alguns Indivíduos com história de câncer em parentes de primeiro grau com < 65 anos, etnia negra e síndromes genéticas são aconselhados a iniciar mais cedo.
E o toque retal?
O toque retal não faz parte do rastreamento. Não está indicado para indivíduos assintomáticos.
O toque retal faz parte do exame físico dirigido para a próstata em indivíduos com sintomas ou alterações em exames.
Há alguma estratégia para prevenir o câncer de próstata?
O CP é uma doença ligada ao envelhecimento, etnia e doenças hereditárias. Não há como mudar esses fatores.
Várias pesquisas tentam estabelecer estratégias para reduzir o risco de desenvolver câncer de próstata, mas como a maioria são estudos observacionais, há vieses que dificultam uma recomendação. Existe uma relação entre obesidade e risco de câncer de prostata, entar evitar o sobrepeso pode ser uma alternativa.
De uma maneira geral, um estilo de vida saudável com a prática de exercícios, dieta, consumo de vegetais e frutas irá melhorar a saúde como um todo.
O Dr trabalha em um centro de pesquisa clínica, como a pesquisa clínica pode ajudar no câncer de prostata?
Qualquer resposta para uma enfermidade vem da pesquisa clínica. Foi através dela que se descobriu o real impacto da estratégia de rastreamento do câncer de próstata. E mudou um conceito que se tinha há décadas.
No Grupo Elora temos 3 estudos com câncer de próstata em andamento.
Um deles é o estudo ATLAS, que avaliou se um esquema mais intenso de bloqueio hormonal é superior ao tratamento hormonal atual quando associado a radioterapia. Esse estudo foi iniciado há 8 anos, e estamos perto de obter os primeiros resultados.
Outro estudo que temos pacientes em tratamento é o estudo AMPLITUDE, que trouxe o tratamento com inibidores da Parp, que já são usados em estágios mais avançados da doença, para o início do tratamento. Estudo que incluiu so pacientes com mutações em genes de reparo.
Outro estudo em andamento é o estudo Capitello-281, que avalia o papel de um medicamento novo para pacientes com câncer de prostata avançado e possuem uma mutação do gene PTEN.
Em breve, vários estudos com novas drogas, incorporando inteligência artificial e outras novas abordagens começarão em nosso centro.
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